segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

meus vinte (trinta) e poucos anos

"... nem por você, nem por ninguém, eu me desfaço dos meus planos
Quero saber bem mais que os meus vinte e poucos anos..."

Acordei com esse trecho da música "Vinte e Poucos Anos" na cabeça. 
Não sei explicar o porquê, ela simplesmente fez meus olhos abrirem pela manhã.
O curioso é que eu nunca a cantei...nem com o Fábio Júnior, nem com o Raimundos e menos ainda com o Fábio Júnior e o Fiuk. (Sim, fui procurar de quem era a música para poder escrever... a pós-graduação tem me ensinado bem, e procurar fontes e fatos fazem muito bem para qualquer reflexão).

Resolvi, então, ler a letra. 
Resolvi, então, ouvir a música inteira.
E ela fala se um sentimento de profunda clareza de planos, de sonhos, de expectativas.
E o trecho que me despertou é o refrão: nem por você, nem por ninguém.
E eu fiquei pensando... 

Ao mesmo tempo em que admiro esse tipo de pensamento, no sentido de que é preciso saber quais sonhos nos movem. E que legal ter essa clareza aos vinte e poucos anos.
Outra música, um outro trecho ecoa lá no fundo dos meus pensamentos... É preciso saber viver (cantada pelo Titãs e pelo Roberto Carlos, em coautoria com o Erasmo Carlos - ah! a aplicação do pensamento científico é uma coisa linda...rsrs... também fui procurar).

Enquanto uma é quase um hino de guerra: não abro mão de nada do que eu sonho para mim por ninguém. A outra me parece um hino de paz: "é preciso ter cuidado para mais tarde não sofrer...".
E isso me fez pensar na maternidade. Na minha família. No movimento que eu tenho observado no mundo.
Nós pais temos protegido tanto os nossos filhos. E ao mesmo tempo, temos sido tão egoístas.
Nós temos ensinado a eles a obstinação, a imaturidade dos vinte e poucos anos.
E pouco temos os lembrado da necessidade de saber viver.
Mas talvez a gente não tenha alcançado essa sabedoria ainda.

Eu tenho sonhos para mim. Muitos sonhos.
Eu sei que o papai tem sonhos para ele. Muitos que eu desconheço.
A pequena também já demostra ter planos e sonhos. E ela está apaixonada por descobri-los.
E eu não quero que a gente diga um para o outro: nem por você, nem por ninguém.
Eu quero que a gente seja capaz de dizer: vamos juntos?
Na tentativa de ir juntos, a rota não será uma linha reta.
Serão necessárias muitas curvas, muitas pedras no caminho.
Mas os meus trinta e poucos anos têm me ensinado que é melhor a curva acompanhada de quem se ama, do que a linha reta a sós.

A música do Fábio Júnior é real e tem seu lado positivo.
É bom que se tenha clareza e nitidez dos seus planos - aos vinte e poucos anos.
A música do Roberto e do Erasmo Carlos, também é real e tem seu lado admirável
É bom saber viver, em qualquer momento de sua história.
E como acordei musical, agora com meus trinta e poucos anos, pensando na minha história, na minha relação com a minha pequena, com meu marido e com as pessoas que eu amo.
Desejo de coração ter a maturidade de caminhar junto das pessoas que importam para mim, sendo capaz de "amar mais, chorar mais, ver o Sol nascer, arriscar mais, errar mais, fazer o que eu devo fazer, aceitar as pessoas como ela são, tendo a certeza de que cada um sabe a alegria e a dor que traz no coração..." que eu também saiba "complicar menos, ver o Sol se pôr, me importar menos com problemas pequenos e morrer de amor", tal como sugere Epitáfio de Sérgio Britto, cantada pelo Titãs. 

PS: Só não vai dar para ecoar o trabalhar menos, porque por hora, tenho trinta e poucos anos, com filha para criar, sonhos para realizar, e vida para viver. O trabalhar menos, a gente deixa para depois. E tomara que se eu souber viver, o meu trabalho não irá roubar a alegria dos nossos dias.

PS de novo: se quiser ouvir as músicas e/ou ler as letras, é só clicar no nome da canção. Deixei o link para cada uma delas.


segunda-feira, 7 de novembro de 2016

tenha fé

Você tem fé?
A gente não precisa ter uma fé igual.
Eu não tenho a pretensão de iniciar um debate teológico acerca das religiões, modelos e práticas.
Estou bem longe disso.

Eu cresci em uma família que professa uma fé.
Eu me casei com alguém que professa a mesma fé.
E temos, juntos, mantido a nossa família sob a mesma fé.
Nós acreditamos em um Deus que se relaciona pessoalmente com a gente, que se importa conosco.
Mas existe algo bastante curioso na minha fé.
Depois que eu cresci, a minha fé começou a ocupar os lugares que a minha razão é limitada para compreender por meio da lógica e da ciência.
Gosto de pensar, pela fé, que existe Alguém maior que cuida de todos esses detalhes incompreensíveis.
Acontece que eu cresci e perdi a fé inocente.
Minha fé existe(ia) - somente - para coisas importantes.

Até que na sexta passada - dia de brinquedo na escola - a pequena, além do brinquedo, levou uma bolsinha de plástico, cheia de cacarecos.
Ela ia dormir na casa da vovó e do vovô, e como você pode imaginar, a mochila foi abarrotada de coisas. Lá tinha o livro da biblioteca, a pasta com a lição de casa, a lancheira, o agasalho de moletom, os brinquedos e a tal bolsinha, cujo propósito era levar para brincar na casa dos avós.
E a bolsinha cheia de cacarecos valiosos (para ela): sumiu.
Recebi uma mensagem da minha mãe dizendo que o item havia sumido, que a pequena tinha chorado, mas que elas oraram juntas pedindo que a bolsinha fosse encontrada.
Com toda a sinceridade do meu coração, a única coisa que pensei foi: que pena, mas ela vai aprender a tomar mais cuidado com as coisas a partir de agora. Minha mãe acolheu a tristeza da pequena, orando.
Está tudo bem, não é nada demais.
Passou o final de semana, e a pequena insistiu na oração.
Fez o mesmo pedido no sábado, no domingo.
E hoje, ela foi para a escola determinada a ir até o achados e perdidos e verificar se sua bolsinha com cacarecos valiosos estava por lá.
Segunda de manhã é tempo de correria por aqui (por aí também, eu sei), e não pensei sobre a situação da bolsinha.
No caminho para a escola, eu olhei em um caminhão e no pára-choque estava escrito "Não perca a fé".
Eu achei curioso, porque imaginei que estaria escrito "não perca a esperança".
Mas segui meu caminho, sem nenhuma inquietação.
Cheguei na escola.
A pequena entrou no carro com um sorriso leve, tranquilo.
Perguntei como tinha sido o dia.
Ela sorriu e disse: foi bom, muito bom.
E me lembrei da bolsinha, e perguntei, meio com medo: - Você conseguiu ir ao achados e perdidos?
E ela disse que sim. E mais: - Mamãe, minha bolsinha estava lá, com todos os meus brinquedinhos dentro.
Os sinais estavam me avisando, mas eu não tinha reparado.
A minha fé "madura", científica e lógica, não me permitiu ver que a fé da minha pequena está em pleno desenvolvimento.
E que uma bolsinha cheia de cacarecos, pode até não ser importante para mim.
Mas para ela, e com a fé que ela tem, é importante, sim.

Como eu disse no começo, não precisamos ter a mesma fé.
Nem eu e você (que está lendo), nem eu e a pequena (que está crescendo).
A pequena não precisa ter a minha fé "madura", científica e lógica.
Mas eu posso ter mais empatia, e desenvolver em mim, uma fé mais "infantil" que se importe com aquilo que é importante para ela.
Como eu também disse no começo, minha intensão não é o debate teológico, mas a reflexão de que a minha fé precisa saber se colocar no lugar do outro, seja esse outro a minha filha, o meu marido, a minha família, os meus amigos, ou qualquer outra pessoa.
E que bom que a bolsinha de cacarecos se perdeu.
E que bom que o caminhão avisou.
E que bom que a minha ficha caiu.
E por isso: tenha fé.


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segunda-feira, 10 de outubro de 2016

mamãe temporariamente fora de serviço

Gostaria de avisar a todos que até o dia 06 de novembro de 2016 estarei temporariamente fora de serviço, por motivo de excesso de serviço.
Como já contei em alguns momentos, estou cursando doutorado em Psicologia, e a qualificação do meu projeto está planejada para acontecer ainda este ano, por isso, até a data supracitada estarei imersa em livros, artigos, textos, rotina de casa, projetos da igreja, e procurando um tanque de oxigênio para manter a vida materna e familiar nos trilhos.
Volto logo, assim que possível!
Com carinho,
Mamãe (sempre) iniciante

terça-feira, 20 de setembro de 2016

isso não é chique

Ontem eu e a pequena estávamos almoçando, e ela começou a me contar sobre uma conversa que teve na hora do lanche com duas amiguinhas na escola.

Mas antes de compartilhar a conversa, preciso abrir o parêntese (e te inserir em algumas coisas da nossa família.
Nós temos tentado preservar o nosso tempo juntos, nós três.
Eu sei que a semana de todo mundo é corrida, e a nossa também é, por isso aos finais de semana nós tentamos passear juntos, experimentar receitas novas, brincar na rua, assistir filmes, praticar esportes, até pequenos projetos na casa nós fazemos. Sempre os três. 
Uma das coisas que o papai gosta de fazer na cozinha, é pão. E recentemente ele aprendeu uma receita de pão que nós três podemos fazer juntos.
Então, domingo a noite é hora de fazer pão aqui em casa.
Tem um monte de coisa boa envolvida no fazer o pão: estamos juntos, nos divertindo, brincando com o alimento, conversando sobre os ingredientes, o cuidado com a higiene, o cuidado com o alimento, a bolinha de pão que cada um faz, o tempo de crescer a massa, o tempo de assar a massa. Sem contar que vira lanche da semana para a escola, é saudável e é um momento muito especial. Pronto, fecha o parêntese).

Volta para o nosso almoço...
Pequena, com uma cara meio estranha, começa a falar:
Ela: - Mamãe, eu sentei com a Amiga 1 e a Amiga 2 na hora do lanche e mostrei o pãozinho que a gente fez.
Eu: Puxa, que legal, filha! Você contou para elas que nós fizemos o pãozinho juntos?
Ela: - Eu contei, mas elas disseram que a gente não é chique.
Eu: - Oi? Como assim?
Ela: - Elas disseram que fazer a própria comida não é chique. Que chique é pagar alguém para fazer tudo o que você quiser.
Eu: - Sério?
Ela: É... elas disseram que chique é quem tem muitos empregados, que fazem o que você quer na hora que você quiser.
Eu: - Filha, cada família tem seu jeito de entender o que é ser chique. Tem família que acha que é chique pagar babá, empregada, motorista. E tem família que tem tudo isso e não acha nem um pouco chique precisar de tantos empregados. Tem família que acha chique estar sempre bem vestido, e tem família que acha chique estar sempre com uma roupa molinha, mesmo que não seja super bonitona. Tem família que acha chique mandar alguém fazer a comida, e tem família que acha chique fazer a própria comida. Mas o chique mesmo, de verdade, é ser feliz!
Ela me deu um sorriso. E eu perguntei:
Eu: - Seu pãozinho estava gostoso?
Ela: - 'Tava sim, com gostinho de carinho e amor.
Eu: - Então era o pãozinho mais chique da escola inteira!

Eu sei que crianças são crianças o tempo todo, elas são espelho do que vivem em suas casas, dos valores das suas famílias. E exatamente por isso, eu quero ensinar para a minha pequena que ser chique é não retribuir uma ofensa com outra ofensa.
Quero que ela aprenda que ser chique é respeitar o ponto de vista do outro. E que isso não implica em concordar, mas respeitar que somos diferentes.
Quero que ela aprenda que ser chique é ser feliz com o que se tem.
Quero que ela aprenda que ser chique é algo que fica lá dentro da gente.
Mas eu sei que do jeito que as coisas estão hoje, isso não é chique.
Por isso, seguirei sendo brega e feliz!



quinta-feira, 25 de agosto de 2016

eu não vou te proteger da vida

Em julho desse ano nós fizemos uma viagem que durou quase 15 dias.
Foi a nossa primeira viagem longa em família.
E digo isso literalmente!
Não foi a primeira viagem longa desde que a pequena nasceu.
Foi a primeira viagem, mesmo.
Em 10 anos de casamento.
17 anos de relacionamento.
As últimas férias (leia-se uma semana de folga) do papai tinham acontecido em 2008.
Então, foram as primeiras férias em 8 anos.
Veja que evento importante para nossa pequena família:
15 dias sem nossa casa.
15 dias sem nosso carro.
15 dias sem nossa cama.
15 dias sem nossa TV, sem nossos livros, sem nossos brinquedos.
15 dias sem nossa zona de conforto.
Zona de conforto essa que não é perfeita, mas que é o nosso cantinho.

Nesses 15 dias nós andamos muito a pé, de ônibus e de metrô.
Nós carregamos sacolas de supermercado por quadras e quadras.
Nós comemos pão com ovo no jantar, quase todos os dias.
E preciso dizer: sair da nossa zona de conforto foi uma experiência muito especial.
Eu cresci com uma zona de conforto do tipo essencial: casa, comida e roupa lavada (e não está excelente?).
Para passear íamos de ônibus para lá e para cá.
E para fazer coisa importante, íamos de ônibus também.
Ir no mercadinho a pé, era o ápice da conquista do direito de ir e vir.
E ser responsável o suficiente para os pais confiarem o dinheiro do pão?
Uau! Era o suprassumo de sentir-se adulta!

A pequena nasceu numa época mais confortável da nossa (do papai e da minha) vida.
Ela sempre andou de carro para ir aos lugares.
Ela já tinha andado de ônibus em passeios escolares.
Mas eram ônibus leito, ou micro ônibus, nada de ônibus de verdade, que falta assento. Que tem que levantar para a senhorinha ou senhorzinho se sentarem. Que tem que segurar bem para não cair.
Ela já tinha feito caminhadas dentro de parques, de zoológicos, mas nunca caminhadas de verdade, daquelas que a gente fica contando as quadras para chegar perto de um banco para descansar um minutinho antes de voltar a andar.
E a pequena reclamou a falta da zona de conforto.
Ela dizia que queria voltar para casa.
Que queria sua cama.
Que queria seu cantinho.
Que queria poder ter um carro para sair.

E eu fiquei pensando na nossa vida.
Nas nossas distâncias.
Na nossa rotina.

Em casa, contando meu trabalho, escola dela, e atividades cotidianas, nós percorremos mais de 80 km todos os dias.
Cogitar a possibilidade de andar a mesma quilometragem a pé, ou de ônibus, é impossível hoje.
Mas a nossa zona de conforto pode ser mais desconfortável em outros aspectos.
Durante as nossas férias, eu relembrei minha infância.
E agradeci por não ter sido educada com uma zona de conforto tão confortável.
Eu percebi que o desconforto faz parte de crescer.
Faz parte do processo de se tornar independente.
De descobrir o nosso caminho.
E me questionei se eu não tenho protegido a pequena de viver.
Eu não quero que ela cresça sem saber amarrar o sapato.
Sem saber andar com as próprias pernas.
Sem saber que o mundo é maior do que o que eu e o papai apresentamos a ela.
Sem saber que a história dela, ela escreverá com a própria mão.

E por isso, filhota, se você estiver lendo o blog da mamãe, eu quero te prometer que eu não vou te proteger da vida.
Algumas vezes você ficará (se já não ficou) brava por eu encolher a sua zona de conforto.
Mas saiba que por mais que eu recolha minha mão para que você faça sozinha, eu estou exatamente ao seu lado.
E sempre estarei.
Te amo ao ponto de não te proteger daquilo que você não precisa de proteção.
Te amo ao ponto de te deixar viver!
Te amo ao ponto de te deixar crescer!




terça-feira, 23 de agosto de 2016

eu me apaixonei

Pois é, "eu me apaixonei" não era bem a frase que eu esperava ouvir da minha filha de 6 anos. 
Mas ela falou.
E eu ouvi.

A conversa aconteceu no caminho para uma festinha de aniversário.
E quero pedir que você imagine a cena.
Era noite.
Estávamos no carro, eu dirigindo, ela na cadeirinha atrás, exatamente atrás de mim.
Nosso contato visual se limitava ao retrovisor.
O papai estava em uma atividade e não pôde nos acompanhar, por isso, naquele instante, éramos ela e eu. 
Eu e ela.
O Spotify estava tocando uma playlist infantil.
Nada sugeria o tema da conversa que desenrolou a seguir:

Pequena: Mamãe, queria te contar uma coisa.
Eu: Claro, meu amor. Pode falar.
Pequena: Eu me apaixonei por um menino ontem.
Eu (com a maior voz de "estamos falando sobre o clima"): Sério? Como você descobriu que estava apaixonada?
Pequena: É que eu achei ele tãããããão lindo.
Eu: E como ele se chama?
Pequena: Ele se chama Luca, conheci no aniversário que fomos ontem. Naquele brinquedo de escorregar.
Eu: Entendi. E porque você acha que está apaixonada?
Pequena: Ah, porque eu fiquei encantada com o jeito dele. Sabe, mamãe, ele foi muito gentil comigo. Todas as vezes que a gente ia subir no brinquedo, ele olhava para mim e dizia: pode ir primeiro.
Eu: Puxa, filha, que legal! Faz tempo que você não encontra um amigo gentil. Alguns amigos na escola gostam de brincar de te assustar. Que bom que você conheceu o Luca ontem.
Pequena: É... eu fiquei encantada!
Eu: Concordo. E eu acho que você conseguiu perceber o sentimento direitinho: você ficou encantada.
Pequena: Mamãe.
Eu: Oi?
Pequena: Sabe o que mais?
Eu: O que?
Pequena: Ele tem Jesus no coração.
Eu: Que legal, eu também gostaria de ter conhecido o Luca, ele parece ser um garoto incrível.
Pequena: Quem sabe se a gente se encontrar quando eu for bem mais velha e já trabalhar, a gente não pode ser tão amigo que vire namorado, e depois se case. Igual a você e ao papai?
Eu: Quem sabe? Mas você não precisa se preocupar com isso. Tudo acontece no tempo certinho, e você pode aproveitar ser criança por bastante tempo.
Pequena: Mamãe, você é minha melhor amiga!
Eu: Você também é a minha melhor amiga, filha. Te amo!
Pequena: Também te amo!

Nós chegamos ao aniversário, ela saiu do carro com a maior cara de quem tem 6 anos de idade. 
Saiu correndo, dizendo que o aniversário estava incrível e que ela ama demais o amigo da festa.
E eu sai do carro catando cavaco. 
Tentado avaliar se tinha me portado bem naquela conversa, se tinha acolhido seu sentimento infantil, colocando o limite necessário, sem que ela se sentisse constrangida.
Fiquei pensando se eu permiti que ela continuasse criança, sem pressa de crescer. 
Mas essa pressa não é própria da infância?
Depois descansei.
E vou contar porque:
Ela se encantou por alguém que lhe tratou bem, com gentileza. Ela reconheceu nele características de um amiguinho de Deus (e pais do Luca, eu não os conheço, mas parabéns pelo filhote!). Ela colocou a ideia em perspectiva - quando eu crescer e estiver trabalhando, ela mostrou que admira o casamento dos pais. E num piscar de olhos, a conversa tinha acabado, e ela... bom, ela continuou sendo a criança incrível de sempre.
E eu aprendi que a gente pode sonhar com coisas importantes desde quando a gente é pequena.
E eu descobri que por enquanto ela quer dividir os sonhos comigo.





segunda-feira, 25 de julho de 2016

desplugar

Eu aprendi uma coisa fantástica nesses últimos meses, e quero dividir com você: quanto mais intensa é a sua vida de verdade, menos tempo você tem para estar on line.
Você pode estar pensando que eu não descobri isso, porque na verdade essa é uma máxima de grandes pensadores modernos, especialmente no que diz respeito ao equilíbrio real - virtual.
Mas existe uma tremenda incoerência rolando nisso, porque normalmente as pessoas dizem e não vivem.
E eu vivi.
Aliás...
Nós vivemos.
Eu quero contar tudo aqui, mas por hora, estou aqui vivendo.
Vivendo as férias escolares.
Vivendo a pausa no trabalho.
Vivendo a ausência do relógio.
Prometo que logo volto.
Eu gosto daqui.




segunda-feira, 23 de maio de 2016

mês de mãe

Maio é oficialmente o mês das mães, das noivas, das famílias.
O meu maio foi intenso.
Foi especial.
Foi corrido.
Como é a maternidade.
Esse ano a pequena já entendeu a proposta do dia das mães.
Ela se esforçou em fazer desse o mais perfeito.
E foi.
Esse maio foi como a vida depois da chegada do bebê.
Passou voando.
Cheio de atividades.
Cheio de rotinas.
Com dias curtos.
Noites ainda mais curtas.
Eu não consegui escrever tudo o que eu planejei.
Eu não consegui fazer tudo o que eu queria.
Mas assim, como na maternidade, eu fiz o que foi possível.
E até o que não era tão possível, assim.
Mas fiz com todo o meu coração.
Sem registros.
Sem reflexões escritas.
Mas com muita profundidade diária.
Maio é oficialmente assim.
Maio é especialmente assim.
Obrigada, Maio.

quarta-feira, 13 de abril de 2016

dicionário Isabelês - Português

A pequena é super criativa, ama desenhar, criar coisas, inventar brinquedos, e ultimamente ela deu para inventar palavras. A cada palavra nova que aparece, eu lanço mão do meu bloquinho de anotações e coloco num banco de palavras. Resolvi colocar as primeiras aqui:

CONFORTANTE - adj. uma coisa que é muito confortável. "Nossa, essa blusa é tão confortante"

DESCADERNAR - verbo. ato de retirar a folha de um caderno. "Você pode me emprestar uma folha? Claro, deixe-me descadernar esta para você." conjug. Eu descaderno, tu descadernas, ele descaderna, nós descadernamos, vós descadernais, eles descadernam.

ESCLAREADO - adj. masc. uma coisa muito clara. "O céu está tão esclareado!"

ESPRIGUIÇOSA - adj. fem. qualidade de uma situação na qual experimentou-se demasiada preguiça. "Tive uma noite de sono tão espriguiçosa! Que delícia!"

FAROLADA - adj. fem. qualidade de um farol alto de carro. "Esse carro precisa estar com a luz tão farolada?"

GABIDA - adjfem. aquela que é inconveniente por se gabar. "Eu não quero mais ser amiga da Fulana, ela é muito gabida."

INFALIDADE - adj. qualidade de um ser ou de uma coisa em ser infalível. "Mas é muita infalidade para esse super herói!"

MAGOÂNCIA - adj. qualidade de quem ficou magoado. "Mas se eu não quiser brincar com você, não vai ter toda aquela magoância, vai?"

NECESSARIA - adj. uma necessidade exagerada. "Quanta necessaria existe no nosso país!"

Aguardem novas edições do exclusivíssimo Dicionário Isabelês-Português, estou confiante que existirão novas tiradas tiragens.




quarta-feira, 6 de abril de 2016

o problema da Fada do Dente

Confessionário: 
Pai, perdoa-me, pois eu pequei. Fui "menas mãe". Não, não é exagero. Vou explicar.

Há algum tempo minha pequenina tem alguns dentes moles. Quatro aliás.
E ela tem experimentado uma expectativa radiante acerca da visita da Fada do Dente.
Esta visita, segundo a lenda infantil, só ocorre quando o dente finalmente cai.
E eis que numa quinta-feira (31 de março de 2016, às 12:45), em meio a um almoço "saudável" selecionado no mais requintado restaurante do palhaço. No meio do sanduíche (-iche), caiu o primeiro dente! Foi aquela festa (aquele sangue)!
Nesta noite, emocionados pelo momento, eu e papai assumimos orgulhosos o papel da Fada do Dente. Colocamos as moedas de chocolate (orientados pela porquinha rosa) e colocamos uns trocadinhos (a Fada do Dente também sofreu impactos da crise econômica). E adormecemos felizes por termos exercido - com louvor - nosso primeiro momento de Fada do Dente.

Confessionário:
- Até aí, tudo bem, minha filha.
- Espera, Pai. Tem mais. 

No dia seguinte (01 de abril de 2016, às 13:00), a pequena tinha uma consulta agendada com a dentista. Tinha mais um dente mole que não caía por nada, e o seu respectivo permanente apontava com toda pompa e formosura. E assim, nós fomos para o consultório. E a dentista (uma linda e fofa) magicamente retirou o dente teimoso. E a pequena foi para casa com o dentinho na mão, e com o sonho da segunda visita da Fada no coração.
Sabe, Pai. Eu e o papai já tínhamos sido a Fada na noite anterior. Nós dois tivemos semanas cansativas. Nós tínhamos até saído para comemorar as janelinhas. 
E nós a... 
Quero dizer... 
Eu e o papai... 
Nós do... 
Sabe o que é... 
Nós adormecemos! 
Nós dormimos! 
É... 
A verdade é que nós esquecemos da Fada... 
Nós esquecemos do dente!

Confessionário:
- Sim, filha. Realmente, isto é ruim.
- Calma, Pai. Tem mais.
- Tem mais, minha filha?
- Sim! 

Na manhã seguinte (02 de abril de 2016, às 6:00), a pequena acordou e constatou que a Fada do Dente não passou. Ela veio cabisbaixa até o nosso quarto. Ela abriu a nossa porta. Segurando as lágrimas, ela encontrou coragem para dizer em voz alta o que havia acontecido. As palavras dela foram de pesar: "Mamãe, Papai. A Fada do Dente não veio". 
Imediatamente eu e o papai nos olhamos, olhos fitos e arregalados.
Eu pulei da cama e a abracei. O papai pulou da cama e veio em nossa direção.
Sabe, a pequena está moça. E mesmo em meio a tamanha decepção, ela segurou as pontas. Não chorou.
Minha cabeça girava. 
O sentimento de "menas mãe" me consumiu.
Eu precisava agir rápido para não destruir a fantasia. 
Eu disse: "Vamos no seu quarto para ver o que aconteceu."
Levantei o travesseiro, como se procurando por ideias.
Até que eu vi, em cima do criado mudo, o potinho com o dente.
Minha mente viu isso como uma oportunidade para amenizar a situação.
E eu disse: "Ah, filha... Entendi porque ela não veio. A Fada do Dente só pega o dentinho que está embaixo do travesseiro, porque esse é o código secreto. Ela não deve ter entendido se podia pegar o seu dente."
A pequena acreditou.
Silenciosamente, ela se dirigiu à mesinha do computador, pegou um lápis e um papel. 
E escreveu: "Querida Fada do Dente, meu dente estará embaixo do travesseiro."
Desenhou alguns dentes na folha, fez um rococó, dobrou em forma de envelope e colocou a correspondência ao lado da cama.
Na noite seguinte a Fada passou.

Confessionário:
- Sabe, Pai. Eu atrasei a Fada do Dente. E pior, eu tirei o trocado que a Fada tinha dado na noite anterior de dentro do cofrinho, e dei o mesmo trocado de novo. Mas a Fada foi. A fantasia permaneceu. A infância continuou.
- Sabe, filha?
- Sim, Pai.
- Você realmente foi "menas mãe". Mas como diz a Palavra de Tiago, capítulo 5, versículo 16: "Confessai os vossos pecados uns aos outros, e orai uns pelos outros para serdes curados. A oração do justo tem grande eficácia.". Você confessou, filha. Vamos orar por você. Vá e não peques mais.
- Obrigada, Pai. Sinto-me aliviada.

segunda-feira, 21 de março de 2016

it's just a moment this time will pass

Eu amo U2, sabe a banda irlandesa? 
Acho eles um máximo.
E tem uma música deles que se chama Stuck in a Moment You Can't Get Out Of, que foi lançada em 2002 e pertence ao álbum All That You Can Live Behind.
Bom, o álbum todo é muito bom, mas essa música em especial, mexe com o meu coração.
...........
Como eu disse há um tempo atrás, eu sou bem árvore. 
(Se você não leu e quiser ler, pode clicar aqui que você vai direto para o dia da minha confissão.)
Tenho dificuldade em pensar que uma mudança é transitória. 
Eu tendo a lidar com a mudança, como algo que se instalará permanentemente na minha rotina, na minha vida.
E adaptação parece ser a minha palavra da vez.
...........
Já faz algo perto de um mês que tenho alugado os ouvidos do papai da pequena (e do Papai do Céu também) com a minha sensação constante de não conseguir fazer as coisas andarem com naturalidade. 
A cada semana, sinto que minhas pernas não são grandes o suficiente para dar os passos que a minha rotina exige de mim: ser esposa, ser mãe, ser filha, ser amiga, ser profissional, ser estudante.
Eu vou percebendo que a cada dia, deixo uma(s) peteca(s) cair(em)
No dia seguinte, pego a(s) que caiu(ram) do chão e derrubo outra(s)
E assim, nada entra no seu devido lugar.
...........
E aí, eu volto à música.
O refrão expressa, com exatidão o meu sentimento:
You've got to get your self together (Você precisa se recompor)
You've got stuck in a moment and you can't get out of it (Você ficou preso a um momento e não consegue sair)
Don't say that later will be better (Não diga que mais tarde ficará melhor)
Now you've got stuck in a moment and you can't get out of it (Agora você ficou preso a um momento e não consegue sair)
E aqui estou euzinha presa a minha lamúria de árvore.
Derrubando todas as petecas. 
Cantando as lágrimas da minha autocomiseração.
E de repente, o Bono e seus amigos me dão uma lição daquelas.
Porque a música termina assim:
It's just a moment (É só um momento)
This time will pass (Esse tempo irá passar).
............
E aqui segue a minha reflexão:
Eu serei todas essas coisas (esposa, mãe, filha, amiga, profissional, estudante) por apenas um momento. 
Realmente é difícil quando todas essas coisas acontecem ao mesmo tempo.
Só que mesmo quando tudo parece nos sobrecarregar, ainda assim, é "só" um momento que irá passar.
Cabe a mim, a partir de agora, me recompor. 
Sair do ciclo vicioso da lamúria. 
E lembrar que como esse momento irá passar, eu preciso saber sorrir agora.
E eu espero - de coração - que isso seja mais fácil para você, porque confesso: isso é bem dureza para mim.
Mas vamos lá...
É só um momento, esse tempo irá passar...




sexta-feira, 18 de março de 2016

carta 2

Oi Filha,

Tudo bem? 
Faz tempo que estou querendo te escrever. 
Muito tempo, mesmo.
Tenho tanto para te falar. 
E é tanto, sobre tantas coisas.
Mas vou escolher um tema só. 
Hoje quero te contar um pouquinho sobre mim.
E de pouco em pouco, quando fizer sentido, compartilho outros quereres.
Eu tenho me esforçado para te oferecer todas as condições necessárias para você crescer e ser feliz.
E Deus sabe o quanto isso é importante para mim.
Nesse processo de lutar por você, de lutar por nossa família, de lutar pelos nossos sonhos (e estou usando lutar no sentido de trabalhar, de esmero, de zelo, de cuidado e amor profundo), eu acabo me perdendo. 
Meu foco é tão intenso nesse propósito, que facilmente me esqueço de sorrir, de aproveitar e de ser leve com o momento que estamos vivendo. 
Como a gente brinca aqui em casa, eu viro um tratorzinho. Uma teimosa. Escutando de menos. Mandando demais.
Mas mesmo a minha feiura - e é feia sim, reconheço. 
É uma feiura que brota do meu amor por você, pelo papai, pelo nosso lar, por quem nós somos.
Não é porque a feiura nasceu no amor, que posso considera-la correta. 
E quero que saiba, que estou trabalhando para corrigir a minha feiura.
Quero te ouvir mais, porque tudo o que você escolhe dizer é tão especial... mesmo quando você escolhe ter os ataques de bobura, que são o primeiro sinal de que minha feiura se instalou. 
Eu sei que os ataques de bobura são o seu jeito te me lembrar que eu esqueci de sorrir.
O que mais quero é encontrar o equilíbrio, para aproveitar nosso tempo que é tão curto, passa tão rápido, e que são extremamente preciosos para mim.
Logo eu chego, lá. 
Obrigada por ter paciência comigo.

Eu te amo, sempre e mais.
Mamãe





sábado, 20 de fevereiro de 2016

as mais ouvidas

Um dia desses, nós saímos para passear num shopping e decidimos almoçar em um restaurante. E, especialmente naquele dia, a pequena estava com audição seletiva. Sabe, quando escuta só que quer?
Isso normalmente é uma chatice, porque causa uma repetição infinita de frases, tanto da minha parte, quanto da parte do papai.
Tudo que falávamos era respondido com um: "Quê?"
Enquanto esperávamos a refeição chegar, a pequena soltou:
- Nossa, você só falou a mesma coisa hoje! 
E aí, resolvemos brincar com isso e fizemos uma lista com as coisas que ela mais ouviu de nós. 
Demos muita risada.
Foi divertido perceber como é que as nossas orientações e conversas ficaram guardadas para ela.
Realmente, a audição estava seletiva, ela guardou só o que era importante.



PS: Como o mundo anda muito chatoestranho, delicado, já vou me antecipar e fazer uma explicação para que não exista nenhuma má interpretação. Sabe aquele cheirinho de criança suada, aquele perfuminho de quem brincou e foi feliz para valer? Nós chamamos de cheirinho de macaquinho. Isso, aqui em casa, é um elogio. O cheirinho de macaco é um perfume que só quem viveu de verdade todas as brincadeiras do dia pode ter! A gente sempre termina dizendo que esse cheirinho será guardado em um potinho, para perfumar a nossa vida todos os dias. E para nós, esse cheirinho é uma delícia de verdade.
PS do PS: Outra explicação é sobre a frase "não mexe nas coisas", como a pequena é da geração touch, ela acha que tudo é de colocar a mão. Por exemplo, quando entra num banheiro público, ela faz questão de tocar tudo (TUDO), o mesmo vale quando ela entra em uma loja, restaurante e lugares desse tipo. Então, é uma questão de higiene e de respeito por aquilo que não é nosso. Não é uma frase que tolhe as oportunidades de exploração do ambiente. 
Beijos

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

dentes moles

Você se lembra da sensação incrível que era ter um dente mole?
Daquele dente bem mole, balançando para frente e para trás na sua boca?
Daquela primeira evidência real de que você estava deixando para trás a vida de ser pequeno, e de começar a se transformar em um ser grande?
Nossa... eu tenho essa lembrança muito vívida em mim.
Eu quase não me aguentei de tanta alegria.
Era quase um "Toma essa, mundo! Tô grande!".
E eu cresci.
E eu não parei de crescer.
Eu fui com tudo, com toda a intensidade.
Fiz tudo com essa garra: "Agora, toma essa, mundo: já caíram todos os dentes e mais: cresceram todos os permanentes! Rá!". E depois: "Toma essa, porque agora eu sou mocinha. Rá!". E depois: "Toma essa, porque me formei.". E depois: "Já posso votar!"... "Já posso dirigir!"... "Já posso fazer faculdade!"... "Já posso me casar!"... "Já posso ser mãe!"
Espera.
Entre o meu primeiro dente mole e hoje, passaram-se 27 anos.
Mas eu sinto que foi como uma piscada de olhos.
Fechei os olhos com 5 anos, e abri com 32.
E quando eu abri, era a minha filha que estava com o dente mole.
E não estou pronta para vê-la crescer com a mesma obstinação que eu cresci.
Queria ela pequeninha.
Quero ela grande.
Quero ela para sempre.
Entende a contradição?
E mais importante, com ela, eu não quero mais piscar.
Quero estar de olhos bem abertos, pois não quero perder nenhum detalhe.
O tempo é traiçoeiro e deselegante, e como ele não respeitará a minha necessidade de congelar os momentos. Eu quero ser mais esperta que ele.
Para eu poder dizer: Toma essa, tempo! Eu vi e vivi tudo! Rá!
E a pequena puxou a mim.
Ela não tem um dente mole.
Ela tem 4.
Toma essa, mundo!
A minha pequena está crescendo.
Rá!



terça-feira, 26 de janeiro de 2016

e não é que é lindo?

Preciso confessar que sou péssima para me adaptar à mudanças.
Não é que eu tenha "apenas" uma dificuldade. 
É que é super-mega-duper-blaster difícil para mim.
Por isso eu tendo a ser o mais estável possível.
Se fosse necessário fazer alguma comparação entre mim e algum outro ser vivo, eu diria que me assemelho à uma árvore.
A dificuldade não diz respeito apenas a mim, ou seja, a mudar a mim mesma; mas também se refere à mudança dos outros.
Respeito grandemente os processos pelos quais as pessoas passam - e que eu mesma já passei e passo; mas mudanças bruscas, que demandam muita flexibilidade emocional, física e de padrões, normalmente são estressantes, potencialmente depressoras, e agravam exponencialmente minha ansiedade.
Por exemplo, mesmo depois de dois anos morando num novo endereço, não consigo me lembrar do número do CEP. Ou mesmo, do número da casa. Tenho dificuldade em conviver com pessoas que mudam de opinião muito rápido, do tipo hoje: "te amo", amanhã: "te desprezo".
Mas a maternidade... ah, a maternidade... ela exige de mim uma flexibilidade que eu nunca tive, mas que me disponho a exercitar.
Desde o primeiro momento, cada vez que eu achei que tinha aprendido a jogar, a pequena veio e espalhou as peças do jogo. 
Quando eu começo a curtir uma mudança, lá vem outra.
Essa semana, ela estava assistindo televisão, e começou a passar uma música. 
Você conhece, sabe aquela: "Meu lanchinho, meu lanchinho: vou comer! Vou comer!"... Então. 
Eu achei que, como sempre, ela cantaria junto.
Só que ela me mostrou que ela mudou, de novo!
A resposta foi: 
- Nossa, mamãe, me deu uma vergonha essa música.
Hoje, nós estávamos voltando da escola, e eu perguntei se ela havia encontrado a professora do ano passado. Ela sempre amou reencontrar as professoras dos anos anteriores, mas esse ano:
- Não, né mamãe!? A professora está com os bebês.
Eu assustei, porque a professora do ano passado sempre fica com a última série do infantil. E disse:
- Nossa! Por que será que a sua professora do ano passado está com os bebês?
E ela:
- Não, mamãe! Ela continua no mesmo infantil. Eu é que não sou mais infantil.
Meu coração partiu. 
Minha ansiedade aumentou. Comi a tarde inteira.
E eu me peguei revendo fotos de quando ela era apenas um bebê, quando ela era o meu pacotinho cheiroso. 
E fiquei tentando encontrar nessa menina moça aquela pessoinha que eu conheci.
A amo de todas as formas, bebê, infantil, não mais infantil e grande.
Meu amor, diferente de mim, tem flexibilidade o bastante para isso.
Uma hora eu aprendo com ele.
Mas voltando a minha comparação com a árvore. 
Mesmo uma árvore sofre mudanças. 
Ela troca as folhas. Ela dá flores e frutos. Ela abriga passarinhos e outros animais. E depois faz tudo isso, de novo e de novo.
Talvez eu, como árvore-mãe, estou fazendo florescer e dando frutos. 
As flores e frutos, por sua vez, nascem pequenininhos, crescem, "descem" da árvore e vão cultivar suas raízes em outro lugar. 
Acho que é isso que estou vivendo. 
E que a pequena também está.
Em algumas horas é mais fácil.
Em outras, é mais difícil.
E não é que tudo isso é lindo?

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

dias iguais

Antes da pequena nascer, eu ansiava pelo final de semana e pelas férias.
Gostava, ou melhor, me encontrava na quebra da rotina, buscava o descanso da semana agitada na manhã preguiçosa do sábado.
A pequena nasceu numa sexta, nós tivemos alta do hospital num domingo. E portanto, minha cabeça que já estava habituada a pensar assim, entendeu que o trabalho de mãe começou oficialmente na segunda. Afinal chegamos em casa com o domingo quase por acabar.
Eis que passou a primeira semana.
Chegou a sexta e meu coração queimava por um descanso, porque mesmo tendo uma rotina agitada (bastante agitada) nunca tinha experimentado um cansaço tão grande.
E a noite da sexta passou.
Amanheceu o sábado e ele foi "igual que nem" os outros dias da semana.
E amanheceu o domingo, e ele repetiu a proeza do sábado.
Achei que era o começo da vida de mãe, que logo passaria.
Não passou.
Voltei a trabalhar, mas escolhi recomeçar aos finais de semana.
Pareceu mais lógico, pois os dias estavam todos iguais, tanto fazia recomeçar na segunda ou no sábado.
E chegaram as primeiras férias.
E surpreendentemente, nada mudou.
A não ser pela briga com o relógio que deu uma trégua.
Cada período de férias escolares trouxeram um desafio novo, uns eram relacionados à apresentar atividades culturais, outros a criar experiências bonitas em casa.
Cada qual com sua beleza e dureza.
E agora, meu desafio novo é conciliar trabalho e férias.
Férias dela, e pseudoférias para mim.
E hoje além das minhas cobranças internas de ser uma boa mãe, existem cobranças externas partindo da pequena: Mamãe, quero ir ao teatro. Ou: Mamãe, quero passear. Ainda: Mamãe, brinca comigo.
E eu em meio a textos científicos, leituras e escritas fico assim como fiquei há cinco anos atrás: com dias iguais.
Pelo menos são dias coloridos, o relógio só me dá bronca a meia noite e só quando ele observa que uma atividade consumiu mais tempo do que o planejado. Não fica no meu pé de hora em hora.
Mas por hora (com o perdão do trocadilho) já está bom.