Em julho desse ano nós fizemos uma viagem que durou quase 15 dias.
Foi a nossa primeira viagem longa em família.
E digo isso literalmente!
Não foi a primeira viagem longa desde que a pequena nasceu.
Foi a primeira viagem, mesmo.
Em 10 anos de casamento.
17 anos de relacionamento.
As últimas férias (leia-se uma semana de folga) do papai tinham acontecido em 2008.
Então, foram as primeiras férias em 8 anos.
Veja que evento importante para nossa pequena família:
15 dias sem nossa casa.
15 dias sem nosso carro.
15 dias sem nossa cama.
15 dias sem nossa TV, sem nossos livros, sem nossos brinquedos.
15 dias sem nossa zona de conforto.
Zona de conforto essa que não é perfeita, mas que é o nosso cantinho.
Nesses 15 dias nós andamos muito a pé, de ônibus e de metrô.
Nós carregamos sacolas de supermercado por quadras e quadras.
Nós comemos pão com ovo no jantar, quase todos os dias.
E preciso dizer: sair da nossa zona de conforto foi uma experiência muito especial.
Eu cresci com uma zona de conforto do tipo essencial: casa, comida e roupa lavada (e não está excelente?).
Para passear íamos de ônibus para lá e para cá.
E para fazer coisa importante, íamos de ônibus também.
Ir no mercadinho a pé, era o ápice da conquista do direito de ir e vir.
E ser responsável o suficiente para os pais confiarem o dinheiro do pão?
Uau! Era o suprassumo de sentir-se adulta!
A pequena nasceu numa época mais confortável da nossa (do papai e da minha) vida.
Ela sempre andou de carro para ir aos lugares.
Ela já tinha andado de ônibus em passeios escolares.
Mas eram ônibus leito, ou micro ônibus, nada de ônibus de verdade, que falta assento. Que tem que levantar para a senhorinha ou senhorzinho se sentarem. Que tem que segurar bem para não cair.
Ela já tinha feito caminhadas dentro de parques, de zoológicos, mas nunca caminhadas de verdade, daquelas que a gente fica contando as quadras para chegar perto de um banco para descansar um minutinho antes de voltar a andar.
E a pequena reclamou a falta da zona de conforto.
Ela dizia que queria voltar para casa.
Que queria sua cama.
Que queria seu cantinho.
Que queria poder ter um carro para sair.
E eu fiquei pensando na nossa vida.
Nas nossas distâncias.
Na nossa rotina.
Em casa, contando meu trabalho, escola dela, e atividades cotidianas, nós percorremos mais de 80 km todos os dias.
Cogitar a possibilidade de andar a mesma quilometragem a pé, ou de ônibus, é impossível hoje.
Mas a nossa zona de conforto pode ser mais desconfortável em outros aspectos.
Durante as nossas férias, eu relembrei minha infância.
E agradeci por não ter sido educada com uma zona de conforto tão confortável.
Eu percebi que o desconforto faz parte de crescer.
Faz parte do processo de se tornar independente.
De descobrir o nosso caminho.
E me questionei se eu não tenho protegido a pequena de viver.
Eu não quero que ela cresça sem saber amarrar o sapato.
Sem saber andar com as próprias pernas.
Sem saber que o mundo é maior do que o que eu e o papai apresentamos a ela.
Sem saber que a história dela, ela escreverá com a própria mão.
E por isso, filhota, se você estiver lendo o blog da mamãe, eu quero te prometer que eu não vou te proteger da vida.
Algumas vezes você ficará (se já não ficou) brava por eu encolher a sua zona de conforto.
Mas saiba que por mais que eu recolha minha mão para que você faça sozinha, eu estou exatamente ao seu lado.
E sempre estarei.
Te amo ao ponto de não te proteger daquilo que você não precisa de proteção.
Te amo ao ponto de te deixar viver!
Te amo ao ponto de te deixar crescer!
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