Pois é, "eu me apaixonei" não era bem a frase que eu esperava ouvir da minha filha de 6 anos.
Mas ela falou.
E eu ouvi.
A conversa aconteceu no caminho para uma festinha de aniversário.
E quero pedir que você imagine a cena.
Era noite.
Estávamos no carro, eu dirigindo, ela na cadeirinha atrás, exatamente atrás de mim.
Nosso contato visual se limitava ao retrovisor.
O papai estava em uma atividade e não pôde nos acompanhar, por isso, naquele instante, éramos ela e eu.
Eu e ela.
O Spotify estava tocando uma playlist infantil.
Nada sugeria o tema da conversa que desenrolou a seguir:
Pequena: Mamãe, queria te contar uma coisa.
Eu: Claro, meu amor. Pode falar.
Pequena: Eu me apaixonei por um menino ontem.
Eu (com a maior voz de "estamos falando sobre o clima"): Sério? Como você descobriu que estava apaixonada?
Pequena: É que eu achei ele tãããããão lindo.
Eu: E como ele se chama?
Pequena: Ele se chama Luca, conheci no aniversário que fomos ontem. Naquele brinquedo de escorregar.
Eu: Entendi. E porque você acha que está apaixonada?
Pequena: Ah, porque eu fiquei encantada com o jeito dele. Sabe, mamãe, ele foi muito gentil comigo. Todas as vezes que a gente ia subir no brinquedo, ele olhava para mim e dizia: pode ir primeiro.
Eu: Puxa, filha, que legal! Faz tempo que você não encontra um amigo gentil. Alguns amigos na escola gostam de brincar de te assustar. Que bom que você conheceu o Luca ontem.
Pequena: É... eu fiquei encantada!
Eu: Concordo. E eu acho que você conseguiu perceber o sentimento direitinho: você ficou encantada.
Pequena: Mamãe.
Eu: Oi?
Pequena: Sabe o que mais?
Eu: O que?
Pequena: Ele tem Jesus no coração.
Eu: Que legal, eu também gostaria de ter conhecido o Luca, ele parece ser um garoto incrível.
Pequena: Quem sabe se a gente se encontrar quando eu for bem mais velha e já trabalhar, a gente não pode ser tão amigo que vire namorado, e depois se case. Igual a você e ao papai?
Eu: Quem sabe? Mas você não precisa se preocupar com isso. Tudo acontece no tempo certinho, e você pode aproveitar ser criança por bastante tempo.
Pequena: Mamãe, você é minha melhor amiga!
Eu: Você também é a minha melhor amiga, filha. Te amo!
Pequena: Também te amo!
Nós chegamos ao aniversário, ela saiu do carro com a maior cara de quem tem 6 anos de idade.
Saiu correndo, dizendo que o aniversário estava incrível e que ela ama demais o amigo da festa.
E eu sai do carro catando cavaco.
Tentado avaliar se tinha me portado bem naquela conversa, se tinha acolhido seu sentimento infantil, colocando o limite necessário, sem que ela se sentisse constrangida.
Fiquei pensando se eu permiti que ela continuasse criança, sem pressa de crescer.
Mas essa pressa não é própria da infância?
Depois descansei.
E vou contar porque:
Ela se encantou por alguém que lhe tratou bem, com gentileza. Ela reconheceu nele características de um amiguinho de Deus (e pais do Luca, eu não os conheço, mas parabéns pelo filhote!). Ela colocou a ideia em perspectiva - quando eu crescer e estiver trabalhando, ela mostrou que admira o casamento dos pais. E num piscar de olhos, a conversa tinha acabado, e ela... bom, ela continuou sendo a criança incrível de sempre.
E eu aprendi que a gente pode sonhar com coisas importantes desde quando a gente é pequena.
E eu descobri que por enquanto ela quer dividir os sonhos comigo.
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