Confessionário:
Pai, perdoa-me, pois eu pequei. Fui "menas mãe". Não, não é exagero. Vou explicar.
Há algum tempo minha pequenina tem alguns dentes moles. Quatro aliás.
E ela tem experimentado uma expectativa radiante acerca da visita da Fada do Dente.
Esta visita, segundo a lenda infantil, só ocorre quando o dente finalmente cai.
E eis que numa quinta-feira (31 de março de 2016, às 12:45), em meio a um almoço "saudável" selecionado no mais requintado restaurante do palhaço. No meio do sanduíche (-iche), caiu o primeiro dente! Foi aquela festa (aquele sangue)!
Nesta noite, emocionados pelo momento, eu e papai assumimos orgulhosos o papel da Fada do Dente. Colocamos as moedas de chocolate (orientados pela porquinha rosa) e colocamos uns trocadinhos (a Fada do Dente também sofreu impactos da crise econômica). E adormecemos felizes por termos exercido - com louvor - nosso primeiro momento de Fada do Dente.
Confessionário:
- Até aí, tudo bem, minha filha.
- Espera, Pai. Tem mais.
No dia seguinte (01 de abril de 2016, às 13:00), a pequena tinha uma consulta agendada com a dentista. Tinha mais um dente mole que não caía por nada, e o seu respectivo permanente apontava com toda pompa e formosura. E assim, nós fomos para o consultório. E a dentista (uma linda e fofa) magicamente retirou o dente teimoso. E a pequena foi para casa com o dentinho na mão, e com o sonho da segunda visita da Fada no coração.
Sabe, Pai. Eu e o papai já tínhamos sido a Fada na noite anterior. Nós dois tivemos semanas cansativas. Nós tínhamos até saído para comemorar as janelinhas.
E nós a...
Quero dizer...
Eu e o papai...
Nós do...
Sabe o que é...
Nós adormecemos!
Nós dormimos!
É...
A verdade é que nós esquecemos da Fada...
Nós esquecemos do dente!
Confessionário:
- Sim, filha. Realmente, isto é ruim.
- Calma, Pai. Tem mais.
- Tem mais, minha filha?
- Sim!
Na manhã seguinte (02 de abril de 2016, às 6:00), a pequena acordou e constatou que a Fada do Dente não passou. Ela veio cabisbaixa até o nosso quarto. Ela abriu a nossa porta. Segurando as lágrimas, ela encontrou coragem para dizer em voz alta o que havia acontecido. As palavras dela foram de pesar: "Mamãe, Papai. A Fada do Dente não veio".
Imediatamente eu e o papai nos olhamos, olhos fitos e arregalados.
Eu pulei da cama e a abracei. O papai pulou da cama e veio em nossa direção.
Sabe, a pequena está moça. E mesmo em meio a tamanha decepção, ela segurou as pontas. Não chorou.
Minha cabeça girava.
O sentimento de "menas mãe" me consumiu.
Eu precisava agir rápido para não destruir a fantasia.
Eu disse: "Vamos no seu quarto para ver o que aconteceu."
Levantei o travesseiro, como se procurando por ideias.
Até que eu vi, em cima do criado mudo, o potinho com o dente.
Minha mente viu isso como uma oportunidade para amenizar a situação.
E eu disse: "Ah, filha... Entendi porque ela não veio. A Fada do Dente só pega o dentinho que está embaixo do travesseiro, porque esse é o código secreto. Ela não deve ter entendido se podia pegar o seu dente."
A pequena acreditou.
Silenciosamente, ela se dirigiu à mesinha do computador, pegou um lápis e um papel.
E escreveu: "Querida Fada do Dente, meu dente estará embaixo do travesseiro."
Desenhou alguns dentes na folha, fez um rococó, dobrou em forma de envelope e colocou a correspondência ao lado da cama.
Na noite seguinte a Fada passou.
Confessionário:
- Sabe, Pai. Eu atrasei a Fada do Dente. E pior, eu tirei o trocado que a Fada tinha dado na noite anterior de dentro do cofrinho, e dei o mesmo trocado de novo. Mas a Fada foi. A fantasia permaneceu. A infância continuou.
- Sabe, filha?
- Sim, Pai.
- Você realmente foi "menas mãe". Mas como diz a Palavra de Tiago, capítulo 5, versículo 16: "Confessai os vossos pecados uns aos outros, e orai uns pelos outros para serdes curados. A oração do justo tem grande eficácia.". Você confessou, filha. Vamos orar por você. Vá e não peques mais.
- Obrigada, Pai. Sinto-me aliviada.
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