Um dos passeios preferidos aqui em casa é ir em livrarias.
Nós amamos! Quando temos tempo, nós vamos às livrarias, escolhemos os livros e vamos lendo e formando uma pilha de livros. Aqueles que a gente mais gosta, a gente traz para casa.
Dia desses, estávamos numa livraria, sentadas no chão, com vários livros lidos e escolhendo mais alguns. E eu não pude deixar de escutar a conversa da vendedora com uma cliente.
Vendedora: Boa tarde, eu posso ajudar?
Cliente: Sim, estou procurando um presente para um sobrinho.
Vendedora: O adulto desta criança tem o hábito de ler para ela?
Nesse mesmo instante, ouvi um disco arranhado dentro de mim.
Oi? O "adulto dessa criança"?
Duas questões me saltaram à mente e soaram estranhas para mim.
A minha primeira foi de pensar que vivemos em um mundo tão chato, mais tão chato que já não é mais politicamente correto perguntar se os pais da criança gostam de ler para ela.
A segunda questão se relaciona com o fato de que a expressão "o adulto dessa criança" é profundamente desprovida de afeto. É como se não existisse nenhuma relação entre este adulto e esta criança. É uma relação impessoal. É como se qualquer adulto pudesse ser O Leitor para a criança.
Ler para uma criança é algo mágico, os olhinhos brilham, a imaginação voa solta. É um momento muito especial. E essa leitura mágica, só acontece quando há uma relação entre o leitor e ouvinte. Os contadores de história que me perdoem (amo levar a minha pequena para ouvi-los e ela ama ouvi-los), mas quando sou eu e/ou o papai que lemos a história... a reação é outra.
A conversa entre a vendedora e a cliente terminou assim:
Cliente: Sim, minha irmã lê bastante para ele.
Vendedora: Ah, que bom! Caso contrário, eu sugeriria para comprar um brinquedo. Ele aproveitaria mais sozinho.
Aí, me contorci inteira!
Atrás de uma expressão politicamente correta, se escondia uma conduta superficial. Se o objetivo é construir um futuro onde as crianças tenham o prazer de ler, mesmo que o pais ou demais responsáveis (me recuso a usar a expressão da vendedora) não tenham o hábito de ler para a criança, então, ganhar um livro é algo bastante sugestivo para adquirir o comportamento.
Enfim.
A pequena saiu da livraria depois de 10 livros lidos, gostou de todos, mas não amou nenhum para ler várias vezes. Ela veio com a cabeça cheia de histórias e com a imaginação aquecida.
Por outro lado, eu saí de lá com um barulho ensurdecedor dentro de mim: "o adulto dessa criança?" - não é isso que eu quero ser para a minha filha.
Eu quero sempre ser a mãe, A MÃE da minha filha.
Com todo afeto e limites que esta relação merece e deve ter.
E eu espero, com todo o meu coração, que você nunca seja o adulto de uma criança.
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