quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Tanto barulho aqui dentro

Você não consegue imaginar quantos momentos aconteceram ao longo desse comecinho de ano que me fizeram questionar aspectos da maternidade.
E no meio disso ficou um barulho dentro de mim.
Sabe como é? 
Aquele barulho estranho, que deixa a gente inquieto.
Mas ao mesmo tempo, é tanta coisa urgente acontecendo, que o barulho estranho vira um barulho de cidade grande, sabe? 
A gente se incomoda, mas se acostuma com ele.

Veja como foi até agora nosso comecinho de ano:
1) Cirurgia de retirada de amígdala e adenoide da pequena (correu tudo bem, graças a Deus!)
2) Início do 2º ano do Ensino Fundamental (nossa antiga 1ª série)
3) Início de rotina de lição de casa (dessas de verdade, que a gente leva tempo para fazer)
4) Reuniões de pais e mestres
5) Consultas médicas (muitas, consultas médicas): pediatra (rotina), otorrino (pré-cirurgia, 2 pós-cirúrgicas), endocrino (para mim), gastro (para mim).
6) Consultas de ortodentista (pequena está usando aparelho ortodôntico há quase um ano)
7) Consultas de veterinário (nossa passarinha se machucou, nosso cachorro desenvolveu uma otite feia) e consequentes retornos e cuidados com os animais.
7) Volta ao trabalho 
8) Volta as atividades da igreja
9) Exames (muitos exames), de exames de sangue, à ultrassons, passando por endoscopias.
10) Reparos da casa: o jardineiro quebrou os fios da internet, os caras da internet quando vieram quebraram os canos de água, o encanador arrumou, mas no dia seguinte ele voltou porque quem não aguentou foi a caixa d'água.

Não é a toa que o barulho ficou abafado por um tempo.
Mas ele é real. 
As vezes, o barulho pode nem ser tão grande, sabe?
Mas pela falta de tempo de escutar com atenção, ele pode parecer maior.
Está vendo a falta que esse espaço me faz?
É tanto barulho aqui dentro!

E eu queria compartilhar uma coisa muito real da maternidade, que vivi (e vivo) com intensidade:
A criança continua existindo, precisando e demandando orientação, educação e limites, independente do ruído interno (reflexões, questionamentos, anseios) ou do ruído externo (demandas diárias, rotinas e agendas). Ah! Vá?
E durante o ruído, seja ele qual tipo for, a criança está nos olhando, aprendendo com a gente sobre a forma como lidamos com os imprevistos, com a nossa flexibilidade ou falta dela, com a nossa disposição em enfrentar os desafios, problemas. Com o nosso pessimismo, ou com o nosso otimismo.
É um exercício daqueles pensar que sua filha está te observando nesse momentos conturbados. 

Isso me deixa um pouco desconfortável, porque não quero que ela veja lados não muito bonitos de quem sou, quero ser um bom exemplo.
Mas ao mesmo tempo, a expressão de ser falível, mostra que ela não precisa ser perfeita - eu também não sou, e preciso lidar com minhas (muitas) imperfeições. 
Não vou exigir isso dela... 
Não vou exigir isso dela... 
Não posso exigir isso dela.

Por outro lado, aquelas características bonitonas que a gente tem, também podem aflorar e mostrar que a gente não é tão porcaria, assim. (E consequentemente se perdoar pelos muitos erros)

Agora que ela está mais velha, ela me olha mais.
Ela me pergunta mais o que estou sentindo.
Ela me pergunta o motivo das minhas caras e bocas.
Ela está aprendendo comigo, de mim, e sobre como eu vivo com o mundo.
Ela faz o mesmo com o papai.
Ela está aprendendo com ele, dele e sobre como ele vive com o mundo.
Ela estende esse movimento para outras pessoas próximas também.

Apesar do barulho, ela está aqui. 
Apensar dos meus barulhos, ela está aqui.
E, meu Deus, é tanto barulho aqui!


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