sábado, 20 de fevereiro de 2016

as mais ouvidas

Um dia desses, nós saímos para passear num shopping e decidimos almoçar em um restaurante. E, especialmente naquele dia, a pequena estava com audição seletiva. Sabe, quando escuta só que quer?
Isso normalmente é uma chatice, porque causa uma repetição infinita de frases, tanto da minha parte, quanto da parte do papai.
Tudo que falávamos era respondido com um: "Quê?"
Enquanto esperávamos a refeição chegar, a pequena soltou:
- Nossa, você só falou a mesma coisa hoje! 
E aí, resolvemos brincar com isso e fizemos uma lista com as coisas que ela mais ouviu de nós. 
Demos muita risada.
Foi divertido perceber como é que as nossas orientações e conversas ficaram guardadas para ela.
Realmente, a audição estava seletiva, ela guardou só o que era importante.



PS: Como o mundo anda muito chatoestranho, delicado, já vou me antecipar e fazer uma explicação para que não exista nenhuma má interpretação. Sabe aquele cheirinho de criança suada, aquele perfuminho de quem brincou e foi feliz para valer? Nós chamamos de cheirinho de macaquinho. Isso, aqui em casa, é um elogio. O cheirinho de macaco é um perfume que só quem viveu de verdade todas as brincadeiras do dia pode ter! A gente sempre termina dizendo que esse cheirinho será guardado em um potinho, para perfumar a nossa vida todos os dias. E para nós, esse cheirinho é uma delícia de verdade.
PS do PS: Outra explicação é sobre a frase "não mexe nas coisas", como a pequena é da geração touch, ela acha que tudo é de colocar a mão. Por exemplo, quando entra num banheiro público, ela faz questão de tocar tudo (TUDO), o mesmo vale quando ela entra em uma loja, restaurante e lugares desse tipo. Então, é uma questão de higiene e de respeito por aquilo que não é nosso. Não é uma frase que tolhe as oportunidades de exploração do ambiente. 
Beijos

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

dentes moles

Você se lembra da sensação incrível que era ter um dente mole?
Daquele dente bem mole, balançando para frente e para trás na sua boca?
Daquela primeira evidência real de que você estava deixando para trás a vida de ser pequeno, e de começar a se transformar em um ser grande?
Nossa... eu tenho essa lembrança muito vívida em mim.
Eu quase não me aguentei de tanta alegria.
Era quase um "Toma essa, mundo! Tô grande!".
E eu cresci.
E eu não parei de crescer.
Eu fui com tudo, com toda a intensidade.
Fiz tudo com essa garra: "Agora, toma essa, mundo: já caíram todos os dentes e mais: cresceram todos os permanentes! Rá!". E depois: "Toma essa, porque agora eu sou mocinha. Rá!". E depois: "Toma essa, porque me formei.". E depois: "Já posso votar!"... "Já posso dirigir!"... "Já posso fazer faculdade!"... "Já posso me casar!"... "Já posso ser mãe!"
Espera.
Entre o meu primeiro dente mole e hoje, passaram-se 27 anos.
Mas eu sinto que foi como uma piscada de olhos.
Fechei os olhos com 5 anos, e abri com 32.
E quando eu abri, era a minha filha que estava com o dente mole.
E não estou pronta para vê-la crescer com a mesma obstinação que eu cresci.
Queria ela pequeninha.
Quero ela grande.
Quero ela para sempre.
Entende a contradição?
E mais importante, com ela, eu não quero mais piscar.
Quero estar de olhos bem abertos, pois não quero perder nenhum detalhe.
O tempo é traiçoeiro e deselegante, e como ele não respeitará a minha necessidade de congelar os momentos. Eu quero ser mais esperta que ele.
Para eu poder dizer: Toma essa, tempo! Eu vi e vivi tudo! Rá!
E a pequena puxou a mim.
Ela não tem um dente mole.
Ela tem 4.
Toma essa, mundo!
A minha pequena está crescendo.
Rá!