terça-feira, 26 de janeiro de 2016

e não é que é lindo?

Preciso confessar que sou péssima para me adaptar à mudanças.
Não é que eu tenha "apenas" uma dificuldade. 
É que é super-mega-duper-blaster difícil para mim.
Por isso eu tendo a ser o mais estável possível.
Se fosse necessário fazer alguma comparação entre mim e algum outro ser vivo, eu diria que me assemelho à uma árvore.
A dificuldade não diz respeito apenas a mim, ou seja, a mudar a mim mesma; mas também se refere à mudança dos outros.
Respeito grandemente os processos pelos quais as pessoas passam - e que eu mesma já passei e passo; mas mudanças bruscas, que demandam muita flexibilidade emocional, física e de padrões, normalmente são estressantes, potencialmente depressoras, e agravam exponencialmente minha ansiedade.
Por exemplo, mesmo depois de dois anos morando num novo endereço, não consigo me lembrar do número do CEP. Ou mesmo, do número da casa. Tenho dificuldade em conviver com pessoas que mudam de opinião muito rápido, do tipo hoje: "te amo", amanhã: "te desprezo".
Mas a maternidade... ah, a maternidade... ela exige de mim uma flexibilidade que eu nunca tive, mas que me disponho a exercitar.
Desde o primeiro momento, cada vez que eu achei que tinha aprendido a jogar, a pequena veio e espalhou as peças do jogo. 
Quando eu começo a curtir uma mudança, lá vem outra.
Essa semana, ela estava assistindo televisão, e começou a passar uma música. 
Você conhece, sabe aquela: "Meu lanchinho, meu lanchinho: vou comer! Vou comer!"... Então. 
Eu achei que, como sempre, ela cantaria junto.
Só que ela me mostrou que ela mudou, de novo!
A resposta foi: 
- Nossa, mamãe, me deu uma vergonha essa música.
Hoje, nós estávamos voltando da escola, e eu perguntei se ela havia encontrado a professora do ano passado. Ela sempre amou reencontrar as professoras dos anos anteriores, mas esse ano:
- Não, né mamãe!? A professora está com os bebês.
Eu assustei, porque a professora do ano passado sempre fica com a última série do infantil. E disse:
- Nossa! Por que será que a sua professora do ano passado está com os bebês?
E ela:
- Não, mamãe! Ela continua no mesmo infantil. Eu é que não sou mais infantil.
Meu coração partiu. 
Minha ansiedade aumentou. Comi a tarde inteira.
E eu me peguei revendo fotos de quando ela era apenas um bebê, quando ela era o meu pacotinho cheiroso. 
E fiquei tentando encontrar nessa menina moça aquela pessoinha que eu conheci.
A amo de todas as formas, bebê, infantil, não mais infantil e grande.
Meu amor, diferente de mim, tem flexibilidade o bastante para isso.
Uma hora eu aprendo com ele.
Mas voltando a minha comparação com a árvore. 
Mesmo uma árvore sofre mudanças. 
Ela troca as folhas. Ela dá flores e frutos. Ela abriga passarinhos e outros animais. E depois faz tudo isso, de novo e de novo.
Talvez eu, como árvore-mãe, estou fazendo florescer e dando frutos. 
As flores e frutos, por sua vez, nascem pequenininhos, crescem, "descem" da árvore e vão cultivar suas raízes em outro lugar. 
Acho que é isso que estou vivendo. 
E que a pequena também está.
Em algumas horas é mais fácil.
Em outras, é mais difícil.
E não é que tudo isso é lindo?

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

dias iguais

Antes da pequena nascer, eu ansiava pelo final de semana e pelas férias.
Gostava, ou melhor, me encontrava na quebra da rotina, buscava o descanso da semana agitada na manhã preguiçosa do sábado.
A pequena nasceu numa sexta, nós tivemos alta do hospital num domingo. E portanto, minha cabeça que já estava habituada a pensar assim, entendeu que o trabalho de mãe começou oficialmente na segunda. Afinal chegamos em casa com o domingo quase por acabar.
Eis que passou a primeira semana.
Chegou a sexta e meu coração queimava por um descanso, porque mesmo tendo uma rotina agitada (bastante agitada) nunca tinha experimentado um cansaço tão grande.
E a noite da sexta passou.
Amanheceu o sábado e ele foi "igual que nem" os outros dias da semana.
E amanheceu o domingo, e ele repetiu a proeza do sábado.
Achei que era o começo da vida de mãe, que logo passaria.
Não passou.
Voltei a trabalhar, mas escolhi recomeçar aos finais de semana.
Pareceu mais lógico, pois os dias estavam todos iguais, tanto fazia recomeçar na segunda ou no sábado.
E chegaram as primeiras férias.
E surpreendentemente, nada mudou.
A não ser pela briga com o relógio que deu uma trégua.
Cada período de férias escolares trouxeram um desafio novo, uns eram relacionados à apresentar atividades culturais, outros a criar experiências bonitas em casa.
Cada qual com sua beleza e dureza.
E agora, meu desafio novo é conciliar trabalho e férias.
Férias dela, e pseudoférias para mim.
E hoje além das minhas cobranças internas de ser uma boa mãe, existem cobranças externas partindo da pequena: Mamãe, quero ir ao teatro. Ou: Mamãe, quero passear. Ainda: Mamãe, brinca comigo.
E eu em meio a textos científicos, leituras e escritas fico assim como fiquei há cinco anos atrás: com dias iguais.
Pelo menos são dias coloridos, o relógio só me dá bronca a meia noite e só quando ele observa que uma atividade consumiu mais tempo do que o planejado. Não fica no meu pé de hora em hora.
Mas por hora (com o perdão do trocadilho) já está bom.