segunda-feira, 8 de outubro de 2012

e eu que nunca tinha queimado o arroz

Há quinze dias atrás, nós passamos por uma virose, mas o que era para ser simplesmente uma virose, se transformou na possibilidade de um diagnóstico muito grave, por um erro da pediatra, ela confundiu um quadro de virose com um quadro de insuficiência renal. Eu de fato surtei de desespero que a pequena realmente pudesse ter desenvolvido esse quadro, e chorei muito com a possibilidade de ela estar passando por isso. No fim, graças a Deus, era só virose mesmo, mas isso virou uma espécie de machucado dentro de mim, e tenho ficado cada vez mais apavorada a cada sintoma simples e comum a infância.
A cada aumento discreto de temperatura, a cada tosse mais forte, eu sinto tudo o que senti quando ouvi da médica que a pequena poderia estar com insuficiência renal. Tem sido muito ruim, tenho ficado meio maluca e tentando prever, antever, prevenir qualquer tipo de doença ou de sofrimento nela - ou em mim. 
Acontece que hoje de madrugada, ela acordou febril, eram 3:15 da manhã. Medimos a temperatura, demos o remédio, colocamos ela para dormir conosco, e controlamos a temperatura até amanhecer... Mas esse estado febril, dentro de mim, foi como um gatilho para o que eu já tinha vivido, minha preocupação foi maior do que era necessário. Fiquei mais cansada... Meu cansaço, somado ao meu medo aprendido, foi desastroso. 
Depois de tentar inutilmente dar uma cara normal para a nossa manhã, resolvi que estava na hora de tomar banho, a pequena tinha uma opinião diferente, para ela era hora de ficar conversando sentada no troninho, mas a banheira já estava cheia, o almoço já estava no fogo, não dava para o banho ser em outra hora. E assim começou a guerra, a manhã, o desespero, os sentimentos misturados, e quando me vi, eu tinha me transformado na pior mãe do mundo, eu gritava, gritava, gritava para ela parar de chorar, e ela se assustava com o meu grito e chorava mais, meus argumentos foram ficando piores e piores... Não bati nela, bati em mim, me soquei na verdade. Porque dentro de mim, estava o desespero do medo da febre da madrugada, o desespero de estar me transformando em alguém que detesto e o desprezo por mim mesma... Por fim, depois de dizer muita bobagem, e dela ter parado de chorar, e eu parado de gritar; tive um momento de lucidez e lembrei que o comportamento inadequado precisa sofrer consequências lógicas, ou seja, qual a relação dos meus gritos desesperados com a manhã e o choro que ela estava tendo? Nenhum, isso não ia e nunca vai resolver os meus problemas com a maternidade.
Então, mostrei para ela que a mamãe tinha perdido o chão, que eu não gosto jamais de ser essa pessoa que grita e esbraveja e fala coisas desnecessárias, disse a ela que eu pedia desculpas por ter agido de forma tão feia, e que prometia que nunca mais gritaria com ela daquele jeito, mas que o que ela fez também não foi bonito e que a mamãe estaria combinando uma consequência sempre que isso acontecesse. Ela entendeu e mais importante eu entendi.
Sabe, não é fácil escrever esse post, muito menos mostrar um lado meu, que nem eu gosto, mas acho que as feiuras precisam ser mostradas vez ou outra, principalmente para marcar mudanças, e quem sabe ajudar que outras não precisem passar pelo mesmo.
E eu que nunca tinha queimado arroz na minha vida, queimei! Ficou tudo preto na panela, mas quem sabe eu nunca mais volte a queimar também....